sábado, 13 de setembro de 2014

Atitude Empreendedora

Atitude Empreendedora
por Marcos Hashimoto

Na semana passada eu conversava com um professor de empreendedorismo de uma universidade americana quando chegamos a um dilema sobre o significado do termo ‘entrepreneur’. Na língua inglesa, entrepreneur designa aquele que inicia e mantém um negócio próprio, qualquer que seja. Para nós, a tradução em português pode significar tanto empreendedor como empresário. Era difícil para ele compreender as diferenças e só começou a ficar claro quando lhe dei a seguinte explicação:


Pessoas que possuem um negócio próprio, os empresários, existem aos montes, mas são apenas alguns poucos deles que são de fato empreendedores. Um empresário pode ter adquirido uma empresa já formada, pode ter herdado o negócio da família ou pode ter aberto um pequeno negócio apenas como meio de subsistência, sem necessariamente ter grandes ambições empreendedoras. Da mesma forma, muitas pessoas têm atitude empreendedora sem necessariamente possuir um negócio. Com freqüência tenho conhecido pessoas que são determinadas, criativas, cheias de iniciativa, auto-motivadas, com sede de aprender e dispostas a qualquer coisa para realizar suas idéias mas que são funcionários, donas-de-casa, militantes de causas sociais, executivos, estudantes e que não têm a menor intenção de abrir um negócio próprio.

Assim, qualquer pessoa, e não apenas o empresário, pode adotar uma atitude empreendedora nas mais diversas situações, seja com o cliente, diante de um problema, durante uma reunião, ao montar a barraca de camping, ao ir a um show de rock ou dando banho no cachorro. Ter atitude empreendedora é manifestar, se não todos, pelo menos alguns dos 7 elementos que descrevo a seguir:

1. Superação: A capacidade de ir além, superar qualquer obstáculo, sobrepujar os limites, desafiar, questionar o status quo, duvidar dos paradigmas impostos, provocar discussões, romper com padrões pré-estabelecidos. Caracteriza aqueles que são determinados e perseverantes. Não desistem nunca.

2. Criatividade: Realizar algo novo, diferente ou único. Desenvolver a habilidade de ver o que ninguém vê, identificar oportunidades nos locais mais improváveis, ter idéias à profusão, perceber coisas que normalmente passam desapercebidas para os outros.

3. Iniciativa: É fazer o que precisa ser feito, sem que seja solicitado. É agir sem ser mandado, conquistando sua própria autonomia. Quem tem iniciativa não gosta de depender de ninguém para conquistar suas realizações e está sempre conduzindo várias coisas ao mesmo tempo.


4. Energia: Descreve aquele que demonstra incansável disposição para trabalhar, ir à luta e partir para a execução, transformar a iniciativa em acabativa. Ter energia é estar sempre disposto e motivado, procurando sempre tirar os planos do papel. A palavra ‘Preguiça’ não faz parte do seu vocabulário.

5. Valor: É a capacidade de gerar algum benefício para alguém. São os resultados finais da iniciativa que são valorizadas por alguém. Estes resultados podem ser de natureza financeira ou não. Pode ser o lucro, o bem estar, a valorização da imagem, a satisfação de um cliente, a redução de custos ou um prêmio qualquer.

6. Compromisso: É assumir a responsabilidade e as conseqüências. É ter a coragem de dizer a todos o que você fez, vestir a camisa de algo maior do que seus interesses pessoais, independentemente dos resultados. Cumprir o que promete e levar uma realização às últimas conseqüências mesmo que prejudique a si mesmo. É não tirar da reta quando a coisa aperta e demonstrar assim credibilidade e confiabilidade.

7. Risco: A capacidade de aceitar o fato de que as coisas podem não sair como planejado e que o erro é uma forma de aprendizado. Pessoas que assumem riscos calculados sabem avaliar os benefícios e não se incomodam em sair da zona de conforto quando necessário.

Existem vários exemplos para mostrar como estes elementos designam atitudes empreendedoras. Pode ser aquele motoboy que tem a iniciativa de procurar caminhos alternativos e usar sua criatividade para aproveitar bem o seu tempo. Pode ser aquela secretária que está determinada a conseguir a aprovação de seu chefe para a compra de um novo arquivo, para beneficiar os colegas de departamento. Pode ser aquele diretor que coloca seu cargo em jogo ao desafiar a matriz e adotar uma estratégia inovadora e arrojada para a empresa. Pode ser aquela mãe que manda seu filho adolescente para estudar no exterior, mesmo que a contragosto, porque sabe os frutos que ele colherá no futuro. Pode ser aquele cabeleireiro que dá asas à sua imaginação e cria um penteado inovador correndo o risco de sua cliente detestar sua idéia. Pode ser aquele lixeiro que gasta todo o seu fim de semana para criar um mecanismo de coleta que seja mais eficaz para que todos seus colegas se beneficiem.

Tenho dito sempre que todos nós somos empreendedores, apenas o somos em maior ou menor grau em função da demonstração destes elementos no nosso dia-a-dia em qualquer cenário e sob qualquer circunstancia. Pessoas pouco empreendedoras apresentam apenas um ou dois destes elementos em pequena escala e de forma pontual, enquanto grandes empreendedores conquistam coisas de grande valor, à custa de muita perseverança e determinação, enfrentando muitos obstáculos para fazer suas idéias radicais acontecerem, despendendo muita energia e dedicação, correndo altos riscos porque acredita estar cumprindo com missões altruístas muito maiores do que seus interesses pessoais.

O professor ouviu com atenção e crescente interesse, percebeu, enfim, a diferença e sugeriu que eu escrevesse um artigo sobre isto pois era um conceito inovador para ele. Pensei então no trabalho que teria, no tempo que tinha para conciliar com outras coisas, nos benefícios que geraria e na minha disposição e motivação. Aí respondi: ‘Desculpe professor, mas no momento me falta uma atitude mais empreendedora’.


Marcos Hashimoto é Doutorando em Administração de Empresas pela EAESP/FGV, Sócio-diretor da Lebre Consulting e Professor da Business School São Paulo. Exerceu cargos executivos em multinacionais como Citibank e Cargill Agrícola. Foi o Coordenador do MBA da Faculdade Prudente de Moraes, eleito em 2003 e 2004 como um dos melhores do Brasil pelo ranking do Guia do Estudante Abril. Autor do software SP Plan (Business Plan) do Sebrae-sp e Fiesp, é também membro do Centro de Empreendedorismo da EAESP/FGV, onde coordena a Competição Internacional de Planos de Negócios (Moot Corp) e o Clube de Organizações Empreendedoras. É parceiro do Instituto Chiavenato, colaborador do Instituto Endeavor e Colunista da revista Você S/A. É autor do livro: 'Espírito Empreendedor nas Organizações' pela Editora Saraiva, em parceria com o Instituto Brasileiro de Intra-empreendedorismo.

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