quinta-feira, 12 de junho de 2008

Trainee: Quando a arrogância supera o potencial

Uma das queixas que tenho ouvido com freqüência e chamou minha atenção principalmente, em um Fórum de RH, no qual fui mediadora, diz respeito às atitudes dos jovens trainees। Não foram destaque, nessa ocasião, as competências técnicas, mas ao contrário, a arrogância e a prepotência de muitos deles, diga-se de passagem, muito bem graduados e saídos de escolas de primeira linha.


Esses jovens são tratados e levados a crer que fazem parte de uma elite melhor que o restante da humanidade, que serão os futuros líderes de grandes companhias e, assim tratados, sua conduta é complementar, mas muitas vezes a arrogância supera o talento e seu potencial। Sempre recorro ao dicionário para não cometer injustiças, por esta razão apresento a seguir a definição do Houaiss para arrogância: "qualidade ou caráter de quem, por suposta superioridade moral, social, intelectual ou de comportamento, assume atitude prepotente ou de desprezo com relação aos outros; orgulho ostensivo, altivez".

Bem, quase nem precisaria continuar esse artigo com tamanha clareza de definição, mas o que me intriga é justamente a reclamação por parte dos líderes organizacionais e dos profissionais de RH que legitimam a situação e depois reclamam das conseqüências। Desde o início dos processos seletivos e a cada etapa eliminatória, são levados a crer que são feitos de matéria diferente dos seus oponentes desclassificados.

Em algumas faculdades, "formadoras de líderes", esses jovens são levados a desenvolver técnicas, a conhecer fórmulas, realizar análises sobre retorno de investimentos, cenários, macroeconomia, tecnologias de informação, programas e sistemas de gestão e outros que tais, mas poucos são incentivados a desenvolver suas competências comportamentais, que o fazem precariamente nos botecos ao redor das faculdades। Poucos são os que conseguem se dar conta do universo em que estão inseridos ? Brasil ? com suas monstruosas diferenças sócio-econômicas-culturais e pensam que uma multinacional americana, por exemplo, vista como a preferência de 9 entre 10 estudantes universitários é a versão empresarial da Disney.

Depois de arduamente selecionados - sim, pois os processos são verdadeiras maratonas que levam meses - esses jovens recebem tratamento diferenciado। São recebidos com cerimônias e logo começam a gerar problemas de relacionamentos em 360 graus com as lideranças, pares, equipes, pois não entendem - até pela falta de maturidade, de experiência de vida, que o mundo não termina no seu umbigo; que as pessoas não existem apenas para servi-los; que o mundo é muito maior do que a escola que freqüentaram e que o mundinho asséptico e higiênico em que foram criados.

Demanda tempo capacitar as pessoas em relação ao respeito às diferenças, a mesma capacidade que leva grandes times à conquista de belos resultados। Mas esses jovens têm alguma dificuldade para lidar com essas diferenças e para perceber que a situação está mais para uma Torre de Babel do que para o tal alinhamento de idéias e valores tão amplamente divulgado. As pessoas são diferentes, falam diferente, têm valores diferentes e que não basta apenas a aplicação de fórmulas e conceitos, nem análise do ROE, senão que o maior investimento deve ser em conhecer as pessoas com quem se trabalha, ser e demonstrar-se humilde, estar aberto ao aprendizado, pois foi para isso que foram selecionados.

Devem estar dispostos a conhecer o universo alheio, pois a formação acadêmica por si, não contempla muitas vezes, ainda, outros saberes e tão pouco supera as experiências que só virão com os erros que certamente acontecerão। Até a frustração com as expectativas serve como aprendizado e para que a pseudo-superioridade caia por terra. É preciso ensinar aos jovens que errar faz parte do jogo, que não se ganha todas, mas que muitas vezes se aprende muito mais perdendo do que vencendo.

Fica um alerta aos profissionais que se envolvem com o processo de formação desses jovens trainees, e incluo nessa lista os professores de graduação, os profissionais de RH e até os pais, no seu importantíssimo papel de PAIS e orientadores de valores e atitudes que devem ser। Muitos pais, a exemplo dos noticiários escandalosos de jornais, legitimam e inflam o ego dos seus filhos planejando um futuro brilhante para sua prole e esquecem de olhar o presente, esquecem de ver o que acontece hoje ao seu redor.

Se quisermos um futuro com líderes mais conscientes, com maior capacidade para lidar com as diferenças - não por ser mais um modismo, mas simplesmente porque o mundo em que vivemos é constituído pelas diferenças e que sabendolidar com elas se vive melhor - é preciso educar e orientar para assim, quem sabe, nos livrarmos dos ditadores que pregam uma falsa igualdade visando apenas interesses próprios. Desta maneira, acredito que o produto final de alguns bem-intencionados Programas de Trainees possa ser a formação de líderes responsáveis em desenvolver seu potencial para agir positivamente na sociedade e inspirar seus colaboradores a demonstrar o melhor que o ser humano tem a oferecer.

Adriana Gomes é psicóloga, mestre em psicologia e consultora de carreira para alunos do curso de MBA da ESPM.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Atitude Empreendedora

Atitude Empreendedora

Na semana passada eu conversava com um professor de empreendedorismo de uma universidade americana quando chegamos a um dilema sobre o significado do termo ‘entrepreneur’. Na língua inglesa, entrepreneur designa aquele que inicia e mantém um negócio próprio, qualquer que seja. Para nós, a tradução em português pode significar tanto empreendedor como empresário. Era difícil para ele compreender as diferenças e só começou a ficar claro quando lhe dei a seguinte explicação:


Pessoas que possuem um negócio próprio, os empresários, existem aos montes, mas são apenas alguns poucos deles que são de fato empreendedores. Um empresário pode ter adquirido uma empresa já formada, pode ter herdado o negócio da família ou pode ter aberto um pequeno negócio apenas como meio de subsistência, sem necessariamente ter grandes ambições empreendedoras. Da mesma forma, muitas pessoas têm atitude empreendedora sem necessariamente possuir um negócio. Com freqüência tenho conhecido pessoas que são determinadas, criativas, cheias de iniciativa, auto-motivadas, com sede de aprender e dispostas a qualquer coisa para realizar suas idéias mas que são funcionários, donas-de-casa, militantes de causas sociais, executivos, estudantes e que não têm a menor intenção de abrir um negócio próprio.

Assim, qualquer pessoa, e não apenas o empresário, pode adotar uma atitude empreendedora nas mais diversas situações, seja com o cliente, diante de um problema, durante uma reunião, ao montar a barraca de camping, ao ir a um show de rock ou dando banho no cachorro. Ter atitude empreendedora é manifestar, se não todos, pelo menos alguns dos 7 elementos que descrevo a seguir:

1. Superação: A capacidade de ir além, superar qualquer obstáculo, sobrepujar os limites, desafiar, questionar o status quo, duvidar dos paradigmas impostos, provocar discussões, romper com padrões pré-estabelecidos. Caracteriza aqueles que são determinados e perseverantes. Não desistem nunca.

2. Criatividade: Realizar algo novo, diferente ou único. Desenvolver a habilidade de ver o que ninguém vê, identificar oportunidades nos locais mais improváveis, ter idéias à profusão, perceber coisas que normalmente passam desapercebidas para os outros.

3. Iniciativa: É fazer o que precisa ser feito, sem que seja solicitado. É agir sem ser mandado, conquistando sua própria autonomia. Quem tem iniciativa não gosta de depender de ninguém para conquistar suas realizações e está sempre conduzindo várias coisas ao mesmo tempo.


4. Energia: Descreve aquele que demonstra incansável disposição para trabalhar, ir à luta e partir para a execução, transformar a iniciativa em acabativa. Ter energia é estar sempre disposto e motivado, procurando sempre tirar os planos do papel. A palavra ‘Preguiça’ não faz parte do seu vocabulário.

5. Valor: É a capacidade de gerar algum benefício para alguém. São os resultados finais da iniciativa que são valorizadas por alguém. Estes resultados podem ser de natureza financeira ou não. Pode ser o lucro, o bem estar, a valorização da imagem, a satisfação de um cliente, a redução de custos ou um prêmio qualquer.

6. Compromisso: É assumir a responsabilidade e as conseqüências. É ter a coragem de dizer a todos o que você fez, vestir a camisa de algo maior do que seus interesses pessoais, independentemente dos resultados. Cumprir o que promete e levar uma realização às últimas conseqüências mesmo que prejudique a si mesmo. É não tirar da reta quando a coisa aperta e demonstrar assim credibilidade e confiabilidade.

7. Risco: A capacidade de aceitar o fato de que as coisas podem não sair como planejado e que o erro é uma forma de aprendizado. Pessoas que assumem riscos calculados sabem avaliar os benefícios e não se incomodam em sair da zona de conforto quando necessário.

Existem vários exemplos para mostrar como estes elementos designam atitudes empreendedoras. Pode ser aquele motoboy que tem a iniciativa de procurar caminhos alternativos e usar sua criatividade para aproveitar bem o seu tempo. Pode ser aquela secretária que está determinada a conseguir a aprovação de seu chefe para a compra de um novo arquivo, para beneficiar os colegas de departamento. Pode ser aquele diretor que coloca seu cargo em jogo ao desafiar a matriz e adotar uma estratégia inovadora e arrojada para a empresa. Pode ser aquela mãe que manda seu filho adolescente para estudar no exterior, mesmo que a contragosto, porque sabe os frutos que ele colherá no futuro. Pode ser aquele cabeleireiro que dá asas à sua imaginação e cria um penteado inovador correndo o risco de sua cliente detestar sua idéia. Pode ser aquele lixeiro que gasta todo o seu fim de semana para criar um mecanismo de coleta que seja mais eficaz para que todos seus colegas se beneficiem.

Tenho dito sempre que todos nós somos empreendedores, apenas o somos em maior ou menor grau em função da demonstração destes elementos no nosso dia-a-dia em qualquer cenário e sob qualquer circunstancia. Pessoas pouco empreendedoras apresentam apenas um ou dois destes elementos em pequena escala e de forma pontual, enquanto grandes empreendedores conquistam coisas de grande valor, à custa de muita perseverança e determinação, enfrentando muitos obstáculos para fazer suas idéias radicais acontecerem, despendendo muita energia e dedicação, correndo altos riscos porque acredita estar cumprindo com missões altruístas muito maiores do que seus interesses pessoais.

O professor ouviu com atenção e crescente interesse, percebeu, enfim, a diferença e sugeriu que eu escrevesse um artigo sobre isto pois era um conceito inovador para ele. Pensei então no trabalho que teria, no tempo que tinha para conciliar com outras coisas, nos benefícios que geraria e na minha disposição e motivação. Aí respondi: ‘Desculpe professor, mas no momento me falta uma atitude mais empreendedora’.


Marcos Hashimoto é Doutorando em Administração de Empresas pela EAESP/FGV, Sócio-diretor da Lebre Consulting e Professor da Business School São Paulo. Exerceu cargos executivos em multinacionais como Citibank e Cargill Agrícola. Foi o Coordenador do MBA da Faculdade Prudente de Moraes, eleito em 2003 e 2004 como um dos melhores do Brasil pelo ranking do Guia do Estudante Abril. Autor do software SP Plan (Business Plan) do Sebrae-sp e Fiesp, é também membro do Centro de Empreendedorismo da EAESP/FGV, onde coordena a Competição Internacional de Planos de Negócios (Moot Corp) e o Clube de Organizações Empreendedoras. É parceiro do Instituto Chiavenato, colaborador do Instituto Endeavor e Colunista da revista Você S/A. É autor do livro: 'Espírito Empreendedor nas Organizações' pela Editora Saraiva, em parceria com o Instituto Brasileiro de Intra-empreendedorismo.